Na véspera de Natal, um Dennis rico, mas solitário, encontra um garoto de oito anos perdido na praça da cidade. Assolado por memórias de sua própria infância, Dennis logo vê sua vida mudar de maneiras que nunca imaginou.
A praça estava viva com luzes e risos. As crianças patinavam, com as bochechas vermelhas pelo frio. Casais caminhavam de mãos dadas, se aproximando, agasalhados e sorrindo. Um pequeno grupo de cantores de Natal cantava na esquina perto da grande árvore, suas vozes quentes, mesmo no ar gelado.
Eu observei tudo, tentando sentir… algo. Você pensaria que um cara bem-sucedido como eu, um órfão que cresceu para se tornar um empresário, não se sentiria deslocado aqui.
Mas aqui estava eu, sozinho, como em todas as outras épocas festivas. Tive alguns relacionamentos ao longo dos anos, mas meus parceiros viam cifrões, não a mim. De repente, senti alguém esbarrar em mim, e virei para ver uma jovem caída no chão, olhando para mim com um sorriso. Seu riso era contagiante, e por um segundo, não pude deixar de sorrir de volta. Ela era bonita, de olhos brilhantes, com uma chama que me pegou de surpresa.
“Ops,” ela riu, ainda sentada ali. “Desculpa! Acho que não sou tão boa no patins quanto pensei.”
“Não tem problema,” eu disse, estendendo a mão para ajudá-la a levantar. “Você tem certeza de que está bem?”
Mas, tão rápido quanto isso, um cara alto veio até nós, fazendo cara feia enquanto a puxava para longe de mim. “Ei, amigo, qual é a desse aqui? Está tentando a sorte com minha garota?”
“Não, eu não estava,” disse rapidamente, recuando, com as mãos levantadas. “Só estava ajudando a levantá-la, só isso.”
“É, então não faça isso,” ele murmurou, me lançando um olhar ameaçador enquanto a levava embora. Ela olhou para trás uma vez, fazendo um rápido “Desculpe”, e então desapareceram, engolidos pela multidão.
Fiquei ali por um momento, balançando a cabeça. “Que nada de milagres,” murmurei. Virei para sair, pronto para ir para casa.
Então senti um pequeno puxão no meu casaco. Me virei, meio esperando ver a garota novamente, mas, em vez disso, me encontrei olhando para um menino. Ele não devia ter mais do que oito anos, com grandes olhos castanhos e um olhar nervoso no rosto. Ele apertava um pequeno chaveiro, com a mão tremendo.
“Com licença, senhor,” disse ele, com voz suave e educada. “Eu… eu preciso de ajuda. Não encontro minha família. Não os vi há dias.”
As palavras me atingiram como uma rajada de ar frio. “Você… perdeu sua família?” perguntei, me abaixando até o nível dos seus olhos. “Quando foi a última vez que os viu?”
O menino olhou para baixo, mexendo os pés. “Não tenho certeza. Tenho procurado há um tempo, mas… por favor, senhor, não chame a polícia.”
“Não a polícia?” perguntei, confuso. “Mas se você está perdido há dias—”
Ele balançou a cabeça vigorosamente. “Não, sem polícia. Ouvi as pessoas dizendo que, às vezes, quando os pais não têm muito dinheiro, a polícia leva as crianças. E… e minha família não tem muito. Eles são pobres. Eu tenho medo de que… bem, eles me levem também.”
Olhei para ele, sentindo uma pontada de algo que não sentia há anos. Eu sabia como era ser uma criança preocupada em ser levada embora.
“Tudo bem,” disse suavemente, colocando a mão no seu ombro. “Nada de polícia, eu prometo. Vamos só… vamos resolver isso. Pode ser?”
Ele assentiu, alívio estampado no rosto. “Obrigado, senhor. Eu não sabia a quem mais pedir.”
“Pode me chamar de Dennis,” disse eu. “E qual é o seu nome?”
“Ben,” ele respondeu, apertando seu chaveiro um pouco mais forte.
“Certo, Ben,” disse eu. “Vamos te levar para casa. Você sabe onde mora?”
Ele assentiu. “É um pouco longe daqui. Eu posso te mostrar. Acho que lembro.”
Chamei meu motorista, e esperamos no frio enquanto ele estacionava na calçada. Ben entrou primeiro, se ajeitando no banco de trás. Eu entrei em seguida, fechando a porta e olhando para ele. “Então,” disse, tentando puxar conversa, “que tipo de chaveiro é esse? Parece bem especial.”
Ele olhou para baixo, os dedos enrolados no pequeno coração prateado do seu chaveiro. “É… bem, é só um chaveiro que eles dão em um lugar onde eu fiquei uma vez.”
Olhei mais de perto, percebendo que aquilo parecia familiar. Muito familiar.
“Então, você gosta do Natal?” perguntei, em vez disso.
“Sim, é legal,” ele murmurou, ainda olhando pela janela.
Quando chegamos no endereço que ele me deu, saí do carro e caminhei com ele até a porta da frente. Ele bateu uma vez, depois mais uma. Silêncio.
“Talvez eles tenham ido para a casa dos meus avós,” disse ele, embora não parecesse muito convencido.
Olhei para trás, para a praça, com suas luzes brilhando à distância. “Certo, Ben,” disse, me ajoelhando ao seu nível. “Talvez devêssemos esperar um pouco. Que tal voltarmos para a praça e aproveitar algumas coisas enquanto esperamos? Você já patinou?”
Ele me olhou, seus olhos brilhando. “Não! Podemos?”
Levantei, sorrindo. “Claro. Por que não?”
Enquanto voltávamos para a praça, o rosto de Ben se iluminou com empolgação. O lugar todo estava brilhando, com luzes penduradas em cada árvore e crianças correndo. Eu não havia feito muito para o Natal há muito tempo, mas aquela noite parecia diferente.
“Então, patinação primeiro?” perguntei, apontando para a pista de patinação.
Os olhos de Ben se arregalaram. “Sério? Posso?”
“Com certeza. Vamos pegar uns patins.”
Minutos depois, estávamos no gelo. Ben saiu desajeitado no começo, seus bracinhos se agitando. Eu não era um expert, mas consegui me manter em pé. Patinamos, tropeçamos e rimos. Eu me senti mais leve do que há anos.
“Olha, Dennis! Eu consegui!” ele gritou, deslizando com mais firmeza, um sorriso enorme no rosto.
“Você já é um profissional,” ri, brincando. “Vou precisar de aulas com você!”
Depois de patinar, tentamos um dos jogos de carnaval—jogar argolas nas garrafas. Ele não ganhou, mas quase derrubou a barraquinha de tanto entusiasmo.
“Podemos tomar chocolate quente?” ele perguntou, olhando para a barraquinha próxima.
“Claro,” eu disse. Pegamos nossas canecas fumegantes e encontramos um banco para sentar e observar a multidão. Enquanto ele tomava, Ben parecia tão contente. Suas bochechas estavam coradas e havia uma paz em sua expressão que parecia um presente.
Eu o olhei, sentindo um calor crescer no meu peito que não sentia há anos. Eu só conhecia aquele menino há algumas horas, mas me sentia conectado a ele. E eu não queria que a noite acabasse.
Mas, eventualmente, limpei a garganta. “Ben, talvez… talvez seja hora de voltar para o abrigo.”
Ele olhou para cima, surpreso, e por um momento, seu rosto caiu. “Como você sabia?”
Sorri suavemente, apontando para o chaveiro dele. “Eu reconheci aquele chaveiro no momento em que vi. Eles deram os mesmos quando eu fiquei lá.”
Os olhos dele se arregalaram. “Você… você estava no abrigo?”
Assenti. “Há muito tempo. Eu tinha a sua idade. Então, eu entendo. Eu sei como é querer uma família, mesmo que seja só por uma noite.”
Os olhos de Ben caíram para o chão, e ele assentiu lentamente. “Eu só… queria me sentir como se tivesse uma família, sabe? Só por causa do Natal.”
“Sim,” disse suavemente. “Eu sei. E estou realmente feliz por ter passado a véspera de Natal com você, Ben.”
Ele olhou para cima, e eu vi a gratidão nos seus olhos. “Eu também, Dennis.”
Caminhamos de volta para o abrigo em silêncio, o calor da noite se estabelecendo entre nós. Quando chegamos, um rosto familiar nos aguardava lá fora. Era ela, a jovem que havia esbarrado em mim mais cedo. Seus olhos se arregalaram de alívio ao nos ver.
“Você está aqui!” ela exclamou, correndo até Ben e o abraçando apertado. “Ficamos tão preocupados com você. Devemos notificar a polícia que você voltou.”
Ben apertou a mão dela, murmurando, “Eu fiquei bem. O Dennis me ajudou.”
A mulher olhou para mim, seu olhar suavizando. “Muito obrigado por trazê-lo de volta.” Ela soltou um suspiro, depois acrescentou com um sorriso cansado: “Eu sou Sarah. Eu sou voluntária aqui. Estivemos procurando por ele desde esta tarde.”
“Prazer em conhecê-la, Sarah,” disse eu, percebendo que aquilo não devia ser um encontro casual. Ficamos ali por um momento, presos em um alívio silencioso e compartilhado. Ela parecia exausta, seu rosto uma mistura de preocupação e algo mais—dor, talvez.
Eu hesitei, então perguntei, “Noite difícil?”
Ela assentiu, desviando o olhar. “Eu descobri que meu namorado… bem, ele estava me traindo. Hoje, de todas as noites.” Ela riu tristemente, enxugando uma lágrima. “Mas acho que é assim mesmo.”
Impulsivamente, eu disse: “Bem… talvez você queira tomar um café?”
Ela olhou para Ben, depois para mim. “Na verdade… eu adoraria.”
Nos meses seguintes, comecei a ir ao abrigo com frequência. Sarah e eu nos encontrávamos lá, conversando por horas e ajudando juntos.
Quanto mais tempo passávamos, mais próximos ficávamos, tanto um do outro quanto de Ben. Ele parecia brilhar sempre que estávamos todos juntos, e logo o abrigo se tornou o lar que eu nem sabia que estava faltando.
Quando o próximo Natal chegou, tudo havia mudado. Sarah e eu agora éramos casados, e Ben se tornara oficialmente nosso filho. Naquela véspera de Natal, voltamos para a praça, os três de mãos dadas, cercados por risos e luzes.
Assistimos aos patinadores, tomamos nosso chocolate quente e sentimos paz como nossa pequena família, um milagre em formação.