Durante muito tempo, enganei-me a mim próprio. Fingindo que tudo na minha vida era como sempre — a mesma rotina, sem mudanças, que tudo era apenas um pesadelo. Eu não podia acreditar que Sergey realmente me traiu. E não apenas casualmente, ao lado, mas seriamente — ele estava saindo com ela! Essa mesma mulher que agora se tornara sua assistente no trabalho. Eles se viam todos os dias…
Todos os sinais eram óbvios: regressos tardios a casa, um perfume estranho na camisa, conversas sussurradas a portas fechadas, viagens de negócios frequentes… mas convenci-me de que eram apenas os meus medos. Que tudo poderia ser explicado logicamente e sem drama desnecessário.
— Diga-me, é verdade que está a vê-la?
Ele nem sequer negou. Apenas friamente disse:
— Já sabes tudo. É bom termos falado sobre isso. Quero o divórcio.
Foi isso. Um golpe. Sem arrependimento, nem uma gota de calor. Apenas » isso é tudo.”
Depois vieram as palavras de consolação.
— Ele não é digno de você, Olga — disse Marina, minha melhor amiga. — Esquece-o como um pesadelo. Talvez seja o melhor. Ele só arruinaria a sua vida.
— Eu sabia desde o início que aquele tipo era um bastardo! — a minha mãe ficou indignada. — Deixa — o ir para o inferno. Vais encontrar outra pessoa, um homem a sério.
— Isso é Vida, baby — suspirou minha sogra quando liguei para ela para contar sobre o divórcio. — Sem filhos, és jovem e bonita. Tens tudo pela frente.
Suas palavras soaram gentis, mas não tocaram minha alma. Especialmente porque dentro, eu ainda esperava. Esperava que Sergey voltasse a si, percebesse seu erro e voltasse. Parvo? Talvez. Mas então eu estava pronto para me agarrar até mesmo à menor chance.
Liguei para ele várias vezes, sonhando que ele mudaria de ideia. Mas ele nem sequer respondeu. Desapareceu. Como se me tivesse apagado da sua vida no momento em que saiu do nosso apartamento.
Para me distrair, comecei a passar muito tempo com Marina e seu irmão Kirill. Já nos conhecíamos há muito tempo, mas antes interagíamos mais como amigos do que como pessoas próximas. Quando éramos adolescentes, eu o admirava um pouco, mas nunca o admitia a ninguém — especialmente a Marina. Afinal, ele era seu irmão.
Agora regressara à nossa cidade depois do seu próprio divórcio, um pouco perdido, um pouco triste. E estranhamente, foi ao lado dele que me senti vivo.
Kirill não teve pena de mim, não repetiu clichês como «você merece melhor», não perguntou sobre meus sentimentos. Ele estava lá. Passeávamos à noite, íamos ao cinema, às vezes apenas sentávamos no parque comendo sorvete que compramos na loja próxima. Ao lado dele, a dor gradualmente se acalmou. E os pensamentos de Sergey tornaram-se fracos e insignificantes.
É por isso que, quando o divórcio oficial foi finalizado, concordei com um relacionamento com Kirill. Não esperava que fosse assim. Mas Marina-ela foi a mais surpreendida de todas.
— Finalmente! — ela exclamou alegremente, abraçando-me. — Sempre soube que seria assim. Eu estou tão feliz!
Eu pisquei em confusão:
— Você… sabia?
— Claro, eu era apenas a certeza de que, — Marina sorriu. — Quem mais poderia ser o melhor jogo para o meu querido irmão, se não você? Eu disse a você: o divórcio é uma bênção. A melhor coisa que já aconteceu com você!
Há alguns meses, teria chorado ou ficado ofendido com essa Declaração. Mas agora percebi que ela tinha razão. Porque ao lado de Kirill, eu realmente me senti diferente — necessário, desejado, amado. Ele não era nada como Sergey. Terno, atencioso, carinhoso… ele até me estragou, o que eu nunca tinha conhecido antes.
Eu não pensava no passado há muito tempo quando de repente meu telefone tocou. A tela mostrava o nome do meu ex-marido. Inesperado e desagradável.
— É Sergey — murmurei, olhando para o telefone. — Não esperava isso.
Kirill acenou com a cabeça:
— Responda. Ouça o que ele tem a dizer.
Convocando minha coragem, pressionei «aceitar.”
— Olga? — sua voz soou-afiada, quase profissional. — Temos de nos encontrar. Urgentemente.
— Sobre o que queres falar? — Perguntei, sentindo uma leve confusão.
— Não ao telefone, ele cortou-me. — Pode vir amanhã ao parque perto da sua casa? Junto ao lago. Escolha a hora.
Um pouco confuso, concordei. Ele disse que viria e desligou.
— Então, entendeste alguma coisa? — Perguntei ao Kirill.
— Não, — ele balançou a cabeça. — Mas se quiseres, posso estar lá.
— Não-respondi com firmeza. — Preciso de encerrar este capítulo de uma vez por todas. Que haja uma reunião. Só eu.
Exatamente na hora marcada, fiquei ao lado do pequeno lago do Parque. Vim sozinho, como planeado. Sergey ainda não estava lá e comecei a duvidar: ele viria? Afinal, já não tínhamos nada que nos ligasse. Talvez ele tenha mudado de ideias? Ou quer pedir — me para voltar?
Naquele momento, ele apareceu à distância-caminhando rapidamente como se estivesse com pressa. Aproximando — se, ele imediatamente começou:
— Ainda bem que vieste. Temos de falar sobre o anel.
— Que Anel? — Fiquei surpreendido.
— Sua aliança de casamento-explicou ele. — Guardaste-o, certo? Quero que me devolvas.
As minhas sobrancelhas dispararam.
— Queres que te dê o anel? Por quê?
Ele encolheu os ombros e franziu a testa ligeiramente:
— Vou casar-me. A Karina e eu precisamos de alianças. Paguei por eles, por isso acho que tenho o direito de recuperar o meu. Especialmente aquele que te pertencia. Isso é justo.
Por um momento eu congelei. Diante de mim estava o homem que uma vez amei, E agora ele estava a pedir-me que devolvesse um presente dado há muitos anos apenas para poupar dinheiro num novo casamento. O pensamento fez-me rir tanto que quase dobrei. Lágrimas escorreram pelo meu rosto-mas não pela tristeza, pelo absurdo da situação.
Enxugando o rosto, olhei-o nos olhos e disse:
— Sabes, sorte tua não o ter jogado fora. Eu até carrego comigo.
Do meu bolso, tirei o anel-sim, estava lá, junto com memórias antigas.
— Aqui — eu disse zombeteiramente. — Já que você precisa tanto-pegue! Não vou atrapalhar a tua felicidade.
Com um movimento brusco, joguei o anel na água. Desapareceu nas profundezas da Lagoa, deixando apenas ondulações na superfície.
Não esperei pela reacção dele. Sem gritos, sem desculpas-Eu não me importava mais. Deixe-o amaldiçoar, deixe-o culpar seu destino. Eu me virei e fui embora, deixando — o sozinho-onde aparentemente ele pertencia.
Mais tarde, contando tudo a Kirill, rimos por um longo tempo. Ele também achou engraçado.
— Você é ótimo — disse ele, sorrindo. — Às vezes é melhor deixar ir — pessoas e coisas que te lembram delas.
Ainda não estamos a planear um casamento. Embora eu ache que Kirill já está pensando nisso. Talvez em breve ele proponha. E porque não? Nós dois passamos pelo divórcio, pela dor, e agora merecemos o direito à verdadeira felicidade. Os meus pais, especialmente a minha mãe, estão muito felizes com a nossa união — ela já sonha com os netos.
E eu? Estou contente com o que tenho. Feliz, não importa o quão banal essa frase soe. E não tenho medo de o dizer: encontrei alguém que me ama verdadeiramente.