«Meu cachorro faria um trabalho melhor com a língua!» Um homem rico insulta um garoto pobre que brilha sapatos em um túnel subterrâneo e se recusa a pagar. Mas o destino os coloca frente a frente novamente no dia seguinte, com uma reviravolta surpreendente que nenhum dos dois poderia ter esperado. O túnel subterrâneo ecoava com o som apressado de passos rápidos. Em meio à agitação, Martin, de 14 anos, estava quieto ao lado da parede, seu kit de limpeza de sapatos espalhado diante dele. Seus olhos se fixavam esperançosamente a cada par de sapatos que passava, rezando por um cliente…
«Só alguns,» ele sussurrou para si mesmo. «Só alguns hoje, por favor.»
À medida que o dia avançava, o estômago de Martin roncava em protesto. O fraco café da manhã, com duas fatias de pão, parecia uma lembrança distante. Ele pegou sua garrafinha de água e deu um pequeno gole para aliviar as dores da fome.
«Você consegue, Martin,» disse a si mesmo. «Por mamãe e Josephine.»
O pensamento de sua mãe paralisada e de sua irmãzinha esperando em casa fortaleceu sua coragem. Ele forçou um sorriso, pronto para enfrentar o que o dia trouxesse.
«Brilho de sapato, senhor? Senhora?» ele chamou, sua voz mal audível acima do barulho do túnel.
As horas passaram, mas ninguém parou. A esperança de Martin começou a murchar, mas ele se recusava a desistir. Quando o sol da tarde batia forte, ele finalmente permitiu-se um momento de descanso. Mergulhando em sua bolsa de couro desgastada, ele tirou uma pequena laranja, seu almoço do dia.
Justo quando começava a descascá-la, um par de sapatos de couro marrom sujos caiu em frente a ele com um forte estrondo.
«Anda logo, garoto. Limpe logo. Estou com pressa,» gritou uma voz áspera.
Martin olhou para cima, seu coração acelerando com excitação e apreensão. O homem que estava em cima dele exalava riqueza de cima a baixo. Esta poderia ser sua chance de ganhar uma boa gorjeta.
«Já vou, senhor!» disse Martin, deixando de lado sua laranja e pegando seus utensílios.
Enquanto ele trabalhava nos sapatos de couro marrom, a impaciência do homem crescia. «O que está demorando tanto? Não tenho o dia todo!»
As mãos de Martin tremiam ligeiramente, mas ele se concentrava em dar o melhor serviço possível. «Quase pronto, senhor. Prometo que ficará ótimo.»
O homem zombou. «Com sua idade, eu já ganhava mais que meu pai. Não estava brilhando sapatos como um mendigo.»
Essas palavras machucaram profundamente Martin. Já haviam se passado três anos desde que um motorista bêbado tirou a vida de seu pai, deixando sua família despedaçada. A memória daquela noite fatídica ainda assombrava Martin—os pneus cantando, o som ensurdecedor do metal se retorcendo e as notícias devastadoras que se seguiram.
Poucos meses após perder seu pai, o mundo de Martin desabou ainda mais quando sua mãe Mariam sofreu um derrame, ficando paralisada. Com apenas onze anos, ele assumiu a responsabilidade de provedor, sacrificando sua infância para seguir os passos de seu pai falecido como engraxate.
As memórias ameaçavam dominá-lo, mas ele as afastou. Ele tinha um trabalho a terminar. Tinha uma família para alimentar.
«Isso é o que você chama de brilho?» o homem zombou, examinando seu sapato. «Meu cachorro faria um trabalho melhor com a língua!»
As bochechas de Martin queimaram de vergonha. «Desculpe, senhor. Eu posso tentar de novo—»
«Esqueça,» o homem o interrompeu, puxando seu telefone. «Sim, Sylvester aqui. Reagende a reunião para às 4. Vou me atrasar por causa desse idiota incompetente.»
Enquanto Sylvester berrava ao telefone, a mente de Martin vagava para tempos mais felizes. Lembrou-se das mãos gentis de seu pai, guiando-o, ensinando-lhe a arte de brilhar sapatos.
«Não se trata apenas do brilho, filho,» ele dizia. «Trate cada sapato como se fosse o mais importante que você já tenha tocado.»
«Ei! Você está ouvindo?» a voz cortante de Sylvester trouxe Martin de volta à realidade. «O que seu pai está fazendo, mandando você para cá assim? Preguiçoso demais para trabalhar, né?»
A garganta de Martin apertou. «Meu pai… ele faleceu, senhor.»
Os olhos de Sylvester se estreitaram. «Ah, entendi. Então sua mãe provavelmente já arrumou outro, parindo mais filhos para mandar pedir esmola, né? Vocês não têm mais nada para fazer?»
Os punhos de Martin se cerraram ao lado do corpo, mas ele forçou um sorriso educado. «São 7 dólares, senhor.»
«SETES DÓLARES?» Sylvester explodiu. «Por esse brilho patético? Eu não acho, garoto.»
Antes que Martin pudesse reagir, Sylvester pegou seus sapatos e saiu apressado, deixando Martin sem nada e com o coração partido.
«Espere!» ele chamou, correndo atrás do homem. «Por favor, senhor! Eu preciso desse dinheiro. Por favor!»
Mas Sylvester já estava em seu carro, acelerando, deixando Martin perdido em uma nuvem de poeira e decepção.
Ele se apoiou contra a parede, lágrimas escorrendo pelo rosto. Olhou para o céu, imaginando o rosto de seu pai.
«Eu estou tentando, pai,» sussurrou. «Estou tentando de verdade.»
As últimas palavras de seu pai ecoaram em sua mente: «Lembre-se, filho. Nunca desista. Cada tropeço é um passo mais perto dos seus sonhos. Lembre-se.»
Enxugando as lágrimas, Martin voltou ao seu lugar. Não havia tempo para autocompaixão. Não havia tempo para lágrimas.
Na manhã seguinte, Martin estava de volta ao seu lugar habitual, arrumando seu kit com determinação. De repente, uma comoção perto dali chamou sua atenção.
«Ajuda! Alguém, ajude!» a voz frenética de uma mulher perfurou o ar.
Martin correu em direção ao som, seu coração batendo forte.
Uma pequena multidão havia se reunido em torno de um carro de luxo, e para sua surpresa, ele reconheceu o homem dentro. SYLVESTER. O mesmo homem arrogante que o insultara.
«Ele está engasgado com uma maçã!» alguém gritou. «As portas do carro estão trancadas!»
Sem hesitar, Martin pegou uma pedra da beira da estrada e quebrou a janela do carro. O vidro estourou por toda parte enquanto ele alcançava para destrancar a porta.
«Fiquem de lado!» gritou, puxando Sylvester para fora do carro.
Com toda a sua força, Martin deu várias batidas firmes nas costas de Sylvester. De repente, um pedaço de maçã saiu da boca de Sylvester, e ele respirou aliviado.
«Você… você me salvou,» Sylvester ofegou, olhando para Martin com os olhos arregalados e surpresos.
Martin o ajudou a se levantar, suas próprias mãos tremendo. «Você está bem, senhor?»
Sylvester assentiu, ainda tentando recuperar o fôlego. «Eu não posso acreditar. Depois de como te tratei ontem… Por que você me ajudou?»
Martin deu de ombros. «Era a coisa certa a fazer.»
Os olhos de Sylvester se encheram de lágrimas. «Sinto muito, garoto. Eu fui horrível com você. Por favor, deixe-me recompensá-lo. Diga o seu preço. Qualquer coisa!»
Martin pensou por um momento e então olhou para cima. «Só os 7 dólares de ontem. Isso é tudo o que eu quero.»
Sylvester o encarou, incrédulo. «Mas… eu poderia te dar muito mais. Um novo começo, talvez?»
Martin balançou a cabeça. «Eu não preciso de um novo começo, senhor. Só preciso cuidar da minha família.»
Relutante, Sylvester entregou o dinheiro. Quando a multidão se dispersou, ele ficou, estudando o rosto de Martin. «Você é incrível, garoto. Qual é o seu nome?»
«Martin, senhor.»
Sylvester acenou lentamente com a cabeça. «Martin. Eu não vou esquecer disso… nem a você.»
Enquanto Sylvester caminhava em direção ao seu carro, Martin segurava o dinheiro suado em sua mão. Olhou para o céu novamente, um pequeno sorriso iluminando seu rosto.
«Eu lembro, pai,» sussurrou. «Eu sempre lembro.»
Na manhã seguinte, Martin foi acordado pelos gritos empolgados de sua irmã.
«Marty! Marty! Vem rápido!»
Ele correu para fora, sua mãe chamando-os, confusa. Lá, na porta de casa, estava uma sacola branca cheia de dinheiro e uma nota.
Com as mãos trêmulas, Martin leu em voz alta:
«Obrigado é uma palavra pequena para o que você fez. Sei que você recusaria isso. Mas você merece uma infância feliz. Me levou apenas uma hora para encontrar seu endereço. O mundo é um lugar pequeno, não é?! Espero que nos encontremos novamente algum dia, e espero que você seja apenas o puro coração de ouro que você é!
Sylvester.»
Lágrimas de alegria e choque preencheram os olhos de Martin. Sua irmã pulava de felicidade, e sua mãe chamava de dentro, claramente surpresa ao ver tanto dinheiro.
«Martin? O que está acontecendo?» ela se aproximou em sua cadeira de rodas.
A mente de Martin corria. Esse dinheiro poderia mudar tudo: o tratamento de sua mãe, a educação de Josephine e todo o futuro deles. Mas seria certo aceitar?
Ele foi até o pequeno altar em sua casa, pegando dois pedaços de papel. Em um, escreveu «LEMBRE-SE,» e no outro, «ESQUEÇA.» Ele os dobrou, embaralhando-os nas mãos.
Acendendo uma vela diante do crucifixo, Martin fechou os olhos. «Pai,» sussurrou, «ajude-me a fazer a escolha certa.»
Com um suspiro profundo, ele pegou um pedaço de papel dobrado e lentamente o abriu. Um pequeno sorriso iluminou seu rosto ao ver a palavra «LEMBRE-SE.»
Naquele momento, Martin soube. Ele aceitaria o dinheiro, não para si mesmo, mas para sua família. Ele lembraria as lições de seu pai, suas próprias lutas e a bondade que pode existir até nos corações mais duros.
«Josephine!» ele chamou, sua voz cheia de emoção. «Vai contar para a mamãe que vamos ao médico hoje. E então… talvez a gente pare para tomar um sorvete no caminho de volta. Vamos comprar um colchão novo e confortável para a mamãe. E muitas compras para a semana toda!»
À medida que os gritos de alegria de Josephine preenchiam o ar, Martin apertava a nota contra o peito. Ele lembrou, e ao fazer isso, encontrou um caminho para o futuro.