Quando o marido de Anna entrou pela porta segurando um bebê chorando, o mundo dela virou de cabeça para baixo. Anos depois, a criança que ela criou como sua está diante de uma escolha que mudará sua vida.
O cheiro de alho e cebola preenchia a pequena cozinha enquanto eu mexia uma panela de sopa. Tinha sido um dia longo, e eu tentava me distrair aperfeiçoando o jantar. A casa parecia silenciosa demais, como sempre. Meu marido, David, estava mais uma vez atrasado, mas eu não estava surpresa. O trabalho dele como motorista de entrega às vezes demorava. Sequei minhas mãos com um pano de prato, olhando para o relógio.
“Sete e meia,” murmurei. “O que há de novo?” A porta da garagem se abriu com um ruído, e eu senti um lampejo de alívio. David finalmente estava em casa. Mas então ouvi algo estranho. Um bebê chorando.
Franzi a testa, secando rapidamente as mãos. Não tínhamos filhos. Tentamos inúmeras vezes até descobrirmos que eu não podia engravidar.
“David?” chamei, caminhando em direção à porta da frente. Quando entrei no corredor, congelei. Lá estava ele, parado na porta aberta, segurando um bebê embrulhado em uma manta cinza e macia.
“Oi,” ele disse, com a voz trêmula.
“David…” Meus olhos se desviaram para o pequeno rosto que espiava da manta. “O que é isso?”
“É um bebê,” ele respondeu, como se eu não pudesse ouvir os gritos agudos que preenchiam o ambiente.
“Eu vejo isso,” retruquei, dando um passo mais perto. “Mas por que você está segurando um bebê?”
“Eu o encontrei,” disse David suavemente, seus olhos arregalados. “Na nossa porta.”
Eu o interrompi. “Espera. Alguém deixou um bebê na nossa porta? Como se fosse… sei lá… um filme ou algo assim?”
“Eu estou falando sério, Anna,” ele disse. “Não havia bilhete, nada. Só ele.” O bebê choramingou, e David ajustou a manta novamente. “Ele estava tão frio, Anna. Eu não podia deixá-lo lá fora.”
“Deixe-me vê-lo.” Minha voz saiu mais firme do que eu pretendia.
David hesitou, mas finalmente se aproximou. Ele puxou a ponta da manta, revelando uma pequena mão. Minha respiração parou na garganta.
“Anna, você está bem?” David perguntou, observando meu rosto.
Eu não respondi. Meus olhos estavam fixos na mão do bebê. Uma pequena marca de nascença em forma de meia-lua estava perto do polegar. Minhas pernas fraquejaram.
“Anna,” David repetiu, mais urgentemente. “O que há de errado?”
“Isso não pode ser,” sussurrei.
Seis meses atrás, minha irmã mais nova, Lily, havia saído da minha vida. A briga foi estúpida, mas o dano que causou não foi. Ela me chamou de crítica; eu a chamei de irresponsável. Nenhuma de nós pediu desculpas.
Quando Lily foi embora, ela desapareceu completamente. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Nada. Eu me convenci de que ela não se importava, embora nunca tenha parado de pensar nela.
Mas agora, olhando para aquela marca de nascença, a verdade me atingiu como uma onda. Esse bebê não era apenas um bebê qualquer.
“Ele é filho da Lily,” eu disse.
David franziu a testa. “O quê?”
“A marca de nascença,” disse eu, apontando para a pequena forma de meia-lua. “Lily tem a mesma na pulso. Isso corre na família.”
Ele olhou para a mão do bebê e depois voltou os olhos para mim. “Você está dizendo que esse bebê é seu sobrinho?”
Eu assenti, meu coração disparando.
“Mas… eu nem sabia que a Lily estava grávida,” disse David.
“Eu também não,” sussurrei.
Uma mistura de raiva e tristeza me invadiu. “Por que ela não me disse? Por que ela deixaria o bebê aqui?”
David parecia tão perdido quanto eu. “Eu não sei, Anna. Mas o que fazemos agora?”
Por um momento, nenhum de nós falou. Os suaves choramingos do bebê preencheram o silêncio. Eu estiquei a mão e toquei sua pequena mão, sentindo seu calor contra minha pele.
Balancei a cabeça. “Devemos ligar para alguém. Para a polícia, talvez. Ou para os serviços sociais.”
A mandíbula de David se contraiu. “Você realmente acha que eles cuidarão dele melhor do que nós? Ele é da família, Anna.”
Eu pisquei para afastar as lágrimas, sentindo-me dividida. Durante anos, eu sonhei em segurar um bebê nos meus braços. Mas não era assim que deveria acontecer.
O bebê soltou um choro suave, e David o balançou suavemente. “Olhe para ele, Anna,” disse ele. “Ele é só um bebê. Ele não pediu por nada disso.”
Eu respirei fundo, minha mente correndo. “Se fizermos isso… se o mantivermos… não será só por hoje, David. Será para a vida toda.”
Ele assentiu. “Eu sei.”
Olhei novamente para o bebê, seu pequeno rosto franzido de sono. Meu coração apertou, dividido entre o medo e algo mais — uma pequena e frágil esperança.
Os anos passaram rápido, mas cada momento com Ethan parecia um presente. Aos 13 anos, ele era alto para sua idade, com cachos escuros que sempre pareciam desordenados e um sorriso capaz de iluminar uma sala. Ele me chamava de “Mãe” e a David de “Pai”, e eu nunca me cansava de ouvir isso.
Nossa casa estava cheia dos sons de sua risada, suas perguntas intermináveis e o ocasional som de uma bola de basquete batendo na porta da garagem. Ele era um bom garoto, cheio de coração.
“Ethan!” chamei da cozinha em uma tarde. “Não se esqueça da sua lancheira. Você a deixou na bancada de novo!”
“Já peguei, Mãe!” ele gritou de volta, correndo pela casa.
David apareceu atrás de mim, bebendo seu café. “Treze anos,” disse ele, balançando a cabeça. “Parece que foi ontem que o encontramos.”
Sorri. “Ele é a melhor coisa que já aconteceu para nós.”
David se inclinou para me beijar na bochecha, mas antes que pudesse, a campainha tocou.
“Eu atendo!” Ethan gritou, já na metade do caminho até a porta.
Eu sequei as mãos em um pano e o segui. Quando Ethan abriu a porta, congelei no lugar.
Lily estava lá, vestida com um casaco elegante, os saltos batendo na varanda enquanto ela ajustava seu peso. Seus brincos de diamante brilhavam, e seu rosto — embora mais velho — estava tão bonito quanto eu lembrava.
“Anna,” ela disse, sua voz suave, mas firme. “Eu preciso conversar com você.”
Sentamos na sala de estar, o ar pesado de tensão. Ethan estava por perto, observando a mulher que era sua mãe biológica com uma curiosidade cautelosa.
“Ethan,” eu disse suavemente, “por que você não nos dá um momento?”
Ele hesitou, depois assentiu. “Ok, Mãe,” disse ele, desaparecendo para o andar de cima.
Os olhos de Lily o seguiram, uma mistura de desejo e culpa surgindo em seu rosto.
“Por que você está aqui, Lily?” eu perguntei, minha voz firme, mas fria.
Ela olhou para mim, seus olhos se enchendo de lágrimas. “Eu cometi um erro, Anna. Um erro terrível. Eu nunca deveria ter deixado ele. Eu não estava pronta na época, mas agora estou.”
Senti meu peito apertar. “O que você está dizendo?”
“Eu estou dizendo que quero meu filho de volta,” ela disse, a voz falhando. “Agora posso lhe dar tudo. Uma casa grande, as melhores escolas, oportunidades que você nem pode imaginar. Ele merece isso.”
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Ethan apareceu, seu olhar fixo em Lily.
“Você é minha mãe biológica, não é?” ele perguntou diretamente.
Lily piscou, surpresa com sua pergunta. “Sim,” ela disse lentamente. “Eu sou. Vim para te levar para casa comigo.”
Ethan não se mexeu. “Casa? Esta é a minha casa.”
O rosto dela amoleceu, e ela estendeu a mão como se fosse tocá-lo. “Eu sei que isso é repentino, mas posso te dar muito, Ethan. Uma vida melhor. Uma casa maior, as melhores escolas, tudo o que você quiser.”
Ethan deu um passo para trás, balançando a cabeça. “Você acha que eu me importo com isso? Você nem me conhece.”
A mão de Lily caiu, sua expressão vacilando. “Ethan, eu—”
“Você não sabe qual é a minha comida favorita. Não sabe que sou péssimo em ortografia, mas ótimo em matemática. Você não estava lá quando quebrei o braço na terceira série ou quando ganhei meu primeiro troféu de basquete,” ele disse, a voz aumentando.
“Ethan,” eu disse suavemente, mas ele continuou.
“Eles estavam lá,” ele disse, apontando para mim e David. “Eles estiveram lá todos os dias. Você é uma estranha para mim.”
Os olhos de Lily se encheram de lágrimas. “Eu sei que cometi erros, mas eu sou sua mãe, Ethan. Esse é um laço que não pode ser quebrado.”
Ele ergueu os ombros, sua voz firme. “Família não é sobre sangue. É sobre amor. E eu já tenho uma família. Não vou a lugar nenhum.”
Os ombros de Lily caíram, o peso de suas palavras atingindo-a. Ela se virou para mim, sua expressão uma mistura de culpa e resignação.
“Você o criou bem, Anna,” ela disse suavemente. “Eu vejo o quanto ele te ama.”
Assenti, minha voz firme, mas gentil. “Ele é feliz, Lily. Isso é tudo o que sempre quisemos para ele.”
Lily deu uma última olhada demorada em Ethan, então se virou para sair. Quando a porta se fechou atrás dela, Ethan soltou um longo suspiro.
“Você está bem?” eu perguntei, puxando-o para um abraço.
“Sim,” ele disse, a voz abafada contra meu ombro. “Eu só… não entendo como ela pôde me deixar assim.”
David se juntou a nós, colocando a mão nas costas de Ethan. “Às vezes as pessoas cometem erros que não podem consertar. Mas você tem a gente, filho. Sempre.”
Uma semana atrás, Deus me recompensou com meu próprio filho. Descobri que estava grávida.