Lena passou a vida inteira sendo excluída, deixada de fora de todos os casamentos de seus irmãos e tratada como uma mera lembrança. Mas quando ela se recusa a convidá-los para o seu próprio casamento, a verdade finalmente vem à tona… Diante da traição, Lena toma uma decisão – uma que a leva ao dia mais feliz de sua vida.
Eu costumava sonhar com casamentos.
Não no estilo conto de fadas, com vestidos brancos esvoaçantes e recepções em salões de baile. Não, meus sonhos eram muito mais simples. Eu só queria me sentar nos bancos da igreja, ver meus irmãos trocarem votos e fazer parte da felicidade deles.
Mas eu nunca tive essa chance.
Porque todos eles me deixaram de fora.
Oak, meu irmão mais velho, se casou quando eu tinha dez anos.
“Você é muito nova, Lena”, disseram.
Depois, aos doze, outro casamento, mas ainda assim eu não pude ir. Aos quinze, implorei para Ivy, minha irmã, abrir uma exceção, mas ela me deu aquele sorriso falso e simpático.
“Se eu deixar você ir, Lena, teria que deixar outras crianças irem também. Isso não seria justo, você sabe disso.”
Quando seria justo? Me perguntei por anos.
Quando eu tinha dezessete anos, meu irmão Silas se casou. Nessa época, eu já tinha parado de me importar. O casamento de seu irmão gêmeo, Ezra, aconteceu logo depois, e eu nem sequer perguntei se poderia ir.
Sinceramente, qual era o sentido? Por que eu tinha que implorar para fazer parte dos dias mais importantes da vida dos meus irmãos?
Mas a parte mais dolorosa? Minha prima de consideração, que tinha acabado de completar dezoito anos, foi convidada. E eu não.
Mandei um parabéns sem entusiasmo e passei a noite no meu quarto com meu namorado, Rowan, que agora é meu noivo.
Foi a última vez que me permiti sentir dor por causa deles.
Então, quando comecei a planejar meu casamento, tomei uma decisão simples:
Nenhum deles seria convidado.
“Tem certeza, Lena?” Rowan perguntou ao olhar para os modelos dos convites do casamento. “Eu sei que eles foram… problemáticos. Mas você quer fazer a mesma coisa que eles? Ou quer mostrar que é melhor do que isso? Que pode agir de forma diferente?”
“Eu não vou convidá-los, Rowan”, eu disse. “Quero que percebam que as ações têm consequências, e esta é uma delas. Eles não vão estar lá. Eles não vão compartilhar nosso grande dia. Não vão rir, chorar, aplaudir, jogar arroz ou confete. Nada disso.”
“O que você quiser, meu amor”, ele respondeu, servindo-me uma taça de vinho. “É só que temos vinte e três anos… Estamos nos casando jovens. E eu não quero que você se arrependa de não ter sua mãe lá.”
Sorri com a consideração dele.
“Sem arrependimentos, Rowan. Eu prometo.”
Então, os convites foram enviados, e não demorou para minha família perceber.
Eles invadiram meu apartamento como uma equipe da SWAT, exigindo respostas.
“Por que não recebemos um convite para o seu casamento, Lena?” Oak perguntou, de braços cruzados.
Me encostei no batente da porta, cruzando os braços também.
Eu tinha esperado por este momento. Esperei anos por este momento…
“Vocês não me quiseram nos seus casamentos. Nenhum de vocês. Então, adivinhem? Eu não quero vocês no meu. É uma questão de lógica.”
O silêncio tomou conta do meu apartamento.
Seus rostos oscilaram entre confusão e indignação.
“Isso é diferente!” Ivy esbravejou depois de um momento. “Havia bebida alcoólica e tios descontrolados! Estávamos protegendo você, Lena!”
Eu ri. Foi uma risada amarga e feia.
“Eu não me importava com a festa. Eu queria ver vocês se casarem. Vocês são minha família. Meus irmãos mais velhos, a quem eu mais amava no mundo. Tudo o que eu queria era ser incluída.”
Então, minha mãe, Marigold, interveio.
“Isso é cruel!” ela gritou, a voz estridente. “Eu quero todos os meus filhos juntos no seu dia lindo! Lena!”
Inclinei a cabeça.
“Isso é irônico, mãe”, eu disse, olhando para meus irmãos. “Mas você realmente não parecia se importar quando eu fui deixada de fora dos dias lindos deles.”
A culpa começou a aparecer. Eu podia ver em seus rostos. Meus irmãos trocaram olhares constrangidos, inquietos. Eu sentia. O desconforto e a realização.
“Não foi pessoal, Lena”, Oak murmurou.
Deixei que aquela frase pairasse no ar por um momento.
“Foi pessoal para mim”, eu disse.
Mais silêncio. Mais inquietação. Ivy tentou chamar a atenção do meu cachorro. Ele a ignorou.
Por fim, suspirei, querendo respostas. Ou alguma forma de resolução.
Não podíamos continuar assim.
“Sabe de uma coisa? Tudo bem. Eu convido vocês. Mas com uma condição.”
Eles imediatamente se animaram, desesperados para consertar a situação.
“O que é?” minha mãe perguntou.
“Me contem tudo. Sem mentiras. Sem desculpas. Apenas a verdade. Me digam, por que eu realmente nunca fui incluída?”
Cruzei os braços com mais força. Por um segundo, pensei em como fui rude – nem sequer ofereci chá ou café à minha família.
Mas esse pensamento logo se dissipou quando percebi por que eles estavam aqui.
Todos ficaram em silêncio. Silêncio demais.
E meu estômago se revirou. Havia mais nisso. Eu podia sentir.
Então, Oak coçou a barba e soltou um suspiro pesado.
“Você realmente não sabe, não é?” ele disse.
“Saber o quê?”
Uma tensão estranha preencheu o ambiente. Meus irmãos trocaram olhares, como se estivessem desafiando uns aos outros a falar.
O que eles poderiam saber que eu ignorava completamente? Que segredo havia sido tão bem guardado que só a ideia de revelá-lo os chocava?
Então, finalmente, Ivy se sentou, entrelaçando as mãos no colo.
“Lena… você não é realmente nossa irmã.”
As palavras dela me atingiram como um tapa no rosto.
“O quê?” ofeguei, sentindo-me tonta.
“Você é nossa prima,” Ivy continuou. “O irmão do nosso pai estava te criando sozinho quando adoeceu e faleceu. Mamãe e papai te acolheram. Mas… não sabemos quem é sua mãe, nem onde ela está.”
O cômodo começou a girar.
“Não. Isso não… Isso não é verdade! Você está brincando comigo, Ivy!”
Meu pai, Ellis, olhava para o chão. Ele estava sentado na poltrona onde sempre se sentava quando vinha ao meu apartamento. Sua pose silenciosa sempre transmitiu autoridade, mas agora?
Agora, ele parecia apenas um homem quebrado.
“Querida, íamos te contar um dia…”
“Quando?!” minha voz falhou. “Quando eu fizesse quarenta? Cinquenta? Sessenta? No meu leito de morte? Ou quando vocês achassem que eu estava pronta?”
Ninguém respondeu. Mal respiravam.
E então veio a última facada no coração, vinda de Ezra.
“Éramos apenas crianças. E você, Lena… Meu Deus. Você precisava de atenção. Você não era nossa irmã, então meio que nos afastamos. Tenho certeza de que você percebeu. Mas acho que pensou que era só uma questão de idade, né?”
Virei-me lentamente para ele, mal reconhecendo a pessoa à minha frente.
“Vocês se afastaram?” minha voz saiu estranhamente calma. “Quer dizer que decidiram que eu não era da família.”
Ele não negou.
Soltei um suspiro lento e trêmulo, apertando o encosto da cadeira ao meu lado. Eu precisava de algo para me manter firme.
Minha vida inteira, eu havia lutado para fazer parte de algo que nunca foi meu.
Eu não era irmã deles. Eu não era… Eu era apenas… a criança que eles toleravam.
Mal me lembro de sair. Apenas caminhei para fora da casa e segui pelo ar da noite. Não sei quanto tempo vaguei, mas, eventualmente, parei na calçada em frente ao apartamento de Rowan.
Quatro quarteirões longe do meu.
Sentei-me ali, entorpecida, observando os semáforos mudarem de vermelho para verde, repetidamente, como se meu cérebro estivesse preso em um loop.
Em algum momento, a porta rangeu ao se abrir. Passos.
Então, calor. O moletom de Rowan sendo colocado sobre meus ombros enquanto ele se agachava ao meu lado.
Ele não perguntou o que havia acontecido. Apenas sentou-se próximo a mim, nossos joelhos se tocando, perto o suficiente para me lembrar de que eu não estava sozinha neste mundo.
Por um longo tempo, encarei as rachaduras na calçada, tentando respirar apesar da dor no peito.
Finalmente, encontrei minha voz.
“Acho que não existo,” sussurrei.
“Lena…” Rowan não recuou, mas me segurou com mais força.
“Quero dizer, eu existo. Mas não de verdade… Não pertenço a lugar nenhum,” continuei. “Passei minha vida inteira tentando provar que fazia parte deles. Mas nunca fui irmã deles. Nunca fui sequer uma segunda opção.”
Rowan suspirou devagar. Eu sabia que ele estava tentando juntar as peças. E, sinceramente? Eu não estava dando muito para ele. Apenas fragmentos conforme saíam da minha boca.
“O que você precisa?” ele perguntou no tom mais suave possível.
“Não sei. Achei que precisava de um casamento, de amor. Um grande dia perfeito onde eles teriam que sentar e me assistir, pelo menos uma vez. Achei que isso faria tudo valer a pena.”
Virei-me para ele. Seu rosto estava suave sob o brilho do poste, paciente como sempre.
“Mas eu não me importo mais,” acrescentei. “Não quero estar no altar pensando neles. Não quero que estejam sentados ali, fingindo me amar, quando tudo o que fizeram foi me tolerar.”
Os dedos de Rowan roçaram os meus.
“Então não faça isso.”
“O quê?”
“Não entregue seu dia para eles, Lena,” ele disse.
Ele se virou completamente para mim agora.
“Deixe que fiquem com seus pedidos de desculpa falsos e olhares culpados. Que vivam com isso. Mas você?” Ele afastou uma mecha do meu cabelo. “Você não precisa de uma plateia para ser feliz.”
As palavras dele abriram algo dentro de mim.
Passei anos tentando me encaixar em um espaço que não me queria. Anos tentando fazê-los me ver, me valorizar, me amar da forma como eu os amava.
Mas Rowan sempre me viu. Não porque precisava. Mas porque escolheu me ver.
A realização me fez prender a respiração.
“Vamos cancelar o casamento,” eu disse.
Rowan estudou meu rosto, como se quisesse ter certeza de que eu realmente queria isso.
“Tem certeza?”
Assenti, com o coração acelerado.
“Sempre fizemos isso porque achávamos que o outro queria. Mas um casamento grande nunca foi a nossa cara.”
Ele sorriu.
Lento, firme, caloroso.
“Não, nunca foi.”
Hesitei.
“Então, o que você quer fazer?”
Rowan inclinou levemente a cabeça, pensando. Então, sem hesitação—
“Quero acordar ao seu lado todos os dias pelo resto da minha vida.”
O ar saiu dos meus pulmões em um suspiro agudo.
Ele pegou minhas mãos, desenhando círculos lentos sobre meus nós dos dedos.
“Não me importo onde ou quando isso aconteça, nem quem estará assistindo. Só quero você, Lena. Isso é tudo. Esse é o meu sonho.”
Minha visão ficou turva de lágrimas e girei meu anel de noivado.
Por anos, persegui as pessoas erradas, implorando para que me amassem.
Mas esse homem?
O que estava sentado ao meu lado no frio, oferecendo-me uma vida inteira de amor sem condições… ele era o único que eu realmente precisava.
Apertei sua mão de volta e fechei os olhos. Me sentindo em paz.
“Então, vamos fugir.”
Os lábios dele se curvaram no sorriso mais genuíno que eu já tinha visto.
“Com certeza!”
E, assim, pela primeira vez na minha vida, fiz uma escolha apenas para mim.
O cartório cheirava a papel velho e tinta fresca.
Não era grandioso. Sem vitrais imponentes, sem um corredor enfeitado com flores, sem uma plateia emocionada.
Era apenas Rowan e eu, diante de um funcionário da cidade, em um escritório iluminado pelo sol.
E, mesmo assim, nunca senti tanta alegria.
“Está pronta?” ele sussurrou, me observando.
Assenti.
“Mais do que nunca.”
O oficial sorriu e pigarreou.
“Vamos manter as coisas simples. Você aceita esta bela mulher como sua esposa legalmente casada?”
O canto da boca de Rowan se ergueu.
“Com certeza.”
Uma risada escapou do meu peito.
Então o oficial se virou para mim.
“E você, Lena, aceita este homem como seu marido legalmente casado?”
Olhei para Rowan, com o coração tão cheio que doía.
“Com tudo o que sou.”
“Então, pelo poder a mim concedido pelo estado de…”
Não ouvi o resto. Porque Rowan já estava me beijando, profundo e suave, como se tivesse esperado a vida inteira para fazer isso.
E talvez tenha. Talvez eu também tenha esperado.
Assinamos os papéis, pegamos as alianças do bolso de Rowan e as colocamos nos dedos um do outro. E foi isso.
Sem sorrisos forçados. Sem felicitações falsas. Sem pessoas fingindo me amar.
Apenas eu e o homem que nunca, jamais, me fez sentir como uma segunda opção.
Ao sairmos, o sol tocou meu rosto, quente e dourado, como se o próprio universo estivesse me dizendo algo.
Você fez a escolha certa.
E era verdade.