Eles dizem que os vizinhos podem se tornar amigos ou inimigos, mas eu nunca imaginei que os meus se transformariam em ambos da noite para o dia. O que começou como um simples favor se transformou em uma briga amarga e uma reviravolta que nos deixou ambos atordoados.
Quando meu marido, Silas, saiu da nossa vida há seis anos, eu nunca imaginei que estaria na minha cozinha, esfregando a mesma bancada pela terceira vez, me perguntando como me tornei essa versão de mim mesma. Sou Prudence, 48 anos, mãe de dois filhos, tentando equilibrar as contas enquanto trabalho remotamente para um call center. A vida não saiu exatamente como eu esperava.
Silas e eu costumávamos falar sobre os nossos sonhos, sabe? O tipo de vida que queríamos construir juntos. Mas, em algum momento, esses sonhos se despedaçaram, deixando-me para juntar os pedaços sozinha. Ele saiu uma noite, dizendo que precisava de «espaço para se encontrar», deixando-me com nosso filho Damien, que tinha oito anos na época, e nossa filha Connie, que tinha apenas alguns meses. Acho que ele encontrou mais do que espaço, porque nunca mais voltou.
«Mãe, posso pegar um pouco de cereal?» A pequena voz de Connie me tirou dos meus pensamentos. Seus grandes olhos castanhos, cheios de inocência, olhavam para mim a partir da mesa da cozinha.
«Claro, querida. Só um segundo.» Forcei um sorriso e peguei a caixa de cereal na prateleira mais alta. Damien, agora com 14 anos, entrou na cozinha, com os fones de ouvido como sempre. Ele mal olhou para cima, ainda olhando para o celular. «Vou sair para encontrar o Jake, tá?» ele murmurou.
«Não fique fora até tarde. E lembre-se, faça a lição de casa quando voltar», chamei depois dele enquanto ele saía pela porta, sem esperar pela minha resposta.
Era só mais um dia na vida que eu vinha juntando desde que o Silas se foi. Equilibrar as responsabilidades de criar dois filhos sozinha enquanto tento manter um teto sobre nossas cabeças não é fácil. Meu trabalho no call center ajuda, mas não é exatamente o emprego dos meus sonhos. Mas é um trabalho, e em tempos como esse, isso é tudo o que importa.
Foi então que Emery, a nova vizinha, com seus 30 e poucos anos, bateu à minha porta. Eu abri para vê-la, com os olhos inchados, parecendo que não havia dormido em dias.
«Oi, Prudence, posso te pedir um grande favor?» ela disse, a voz tremendo um pouco.
Assenti, abrindo espaço para ela entrar. «Claro, Emery. O que aconteceu?»
Ela suspirou, afundando-se no sofá como se estivesse prestes a desabar. «Eu fiz uma festa louca ontem à noite e depois fui chamada para trabalhar fora. A casa está uma bagunça, e eu não tenho tempo para limpá-la. Você poderia me ajudar? Eu pago, claro.»
Hesitei, olhando para o relógio. Meu turno começava em algumas horas, mas a ideia de ganhar um dinheiro extra era tentadora. Deus sabe que precisaríamos.
«Quanto estamos falando?» perguntei, cruzando os braços.
«Duzentos e cinquenta dólares», ela disse rapidamente. «Eu realmente preciso de ajuda, Prudence. Eu não pediria se não fosse uma emergência.»
«Tá bom,» concordei após um momento. «Eu faço isso.»
«Obrigada! Você é uma salva-vidas!» Emery me abraçou rapidamente antes de sair, deixando-me me perguntando no que eu havia me metido.
A casa de Emery estava um caos, e isso é um eufemismo. Parecia que um furacão tinha passado por ali, com garrafas vazias, pratos com comida meia comida e lixo espalhado por todo lado.
Eu fiquei no meio da sala dela, com as mãos na cintura, tentando descobrir por onde começar.
Dois dias. Eu passei dois dias inteiros esfregando, varrendo e tirando o lixo daquela casa. Quando terminei, minhas costas doíam, e minhas mãos estavam rachadas. Mas eu me lembrei dos $250 que Emery havia prometido. Esse dinheiro faria uma grande diferença para nós.
Quando Emery finalmente voltou, fui até a casa dela, pronta para cobrar.
«Emery, está feito. Sua casa está imaculada,» disse eu, tentando esconder o cansaço na minha voz. «Então, sobre o pagamento…»
Ela piscou para mim como se eu estivesse falando outra língua. «Pagamento? Que pagamento?»
Eu franzi a testa, meu coração afundando um pouco. «Os $250 que você prometeu por limpar sua casa. Lembra?»
A expressão de Emery mudou para confusão, depois para irritação. «Prudence, eu nunca concordei em te pagar nada. Eu não sei do que você está falando.»
Por um momento, fiquei parada ali, atônita. «Você… o quê? Você disse que me pagaria! Nós fizemos um acordo.»
«Não, nós não fizemos,» ela rebateu. «Olha, estou atrasada para o trabalho, e realmente não tenho tempo para isso.» Ela passou por mim, indo em direção ao carro.
«Emery, isso não está certo!» chamei, mas ela já estava saindo de marcha a ré na garagem, sem me dar uma segunda olhada.
Enquanto observava o carro de Emery desaparecer na rua, fiquei ali, furiosa. Como ela podia simplesmente sair assim?
Dois dias de trabalho exaustivo, e ela teve a cara de pau de fingir que nunca fizemos um acordo. Eu podia sentir minha raiva crescendo, mas sabia que não deveria agir por impulso.
Voltei para minha casa, bati a porta atrás de mim e comecei a andar de um lado para o outro na sala, tentando pensar. Connie estava brincando com suas bonecas no chão, e Damien ainda estava fora com os amigos. Eu não queria envolver meus filhos nisso, mas também não ia deixar Emery se sair com essa.
«Tá, Prudence, você tem que ser esperta com isso,» murmurei para mim mesma. Olhei pela janela para a casa de Emery e uma ideia começou a se formar na minha mente. Era arriscado, mas eu já não me importava mais. Se ela queria jogar sujo, eu também podia entrar na lama.
Vinte minutos depois, estava no lixão local, colocando uma luva velha que eu mantinha no carro. Não estava orgulhosa do que ia fazer, mas tempos desesperados pedem medidas desesperadas.
Carreguei meu carro com o máximo de sacos de lixo que consegui. O cheiro quase me fez vomitar, mas eu apertei os dentes e continuei.
Durante o caminho de volta, fiquei repetindo nossa conversa na minha cabeça, o tom desdenhoso dela, a recusa em reconhecer o que ela havia prometido. Quanto mais eu pensava nisso, mais justificada me sentia.
Ela nem teve a decência de respeitar o trabalho duro que eu coloquei para limpar a casa dela. Bem, ela ia ver como as coisas podiam ficar sujas.
Quando estacionei na frente da casa de Emery, a rua estava calma. Ninguém estava por perto para me ver abrir o porta-malas e começar a levar os sacos de lixo para a porta da frente dela. Meu coração batia forte no peito, e a adrenalina tomava conta de mim enquanto trabalhava rápido.
Foi então que percebi: Emery havia esquecido de pegar a chave da casa de volta comigo. Ela estava tão apressada quando saiu que nem pensou nisso.
Hesitei por um momento. Mas então pensei no olhar no rosto dela quando me disse que não havia acordo, a forma como me desprezou como se eu fosse nada. Eu não ia deixar ela se sair com isso.
Destranquei a porta e entrei. A casa ainda estava imaculada, como eu tinha deixado, mas isso estava prestes a mudar. Uma a uma, abri os sacos de lixo, despejando o conteúdo por todo o chão, balcões e até na cama dela. Comida podre, jornais velhos, fraldas sujas: tudo misturado numa pilha nojenta.
«É isso que você ganha, Emery,» murmurei para mim mesma enquanto despejava o último saco. «Você quis brincar, agora vamos jogar.»
Fechei a porta atrás de mim, me certificando de trancá-la, e coloquei a chave embaixo do capacho de boas-vindas. Enquanto voltava para o carro, senti uma estranha onda de satisfação e culpa. Mas afastei isso. Emery trouxe isso sobre si mesma.
Naquela noite, assim que estava colocando Connie para dormir, ouvi batidas furiosas na minha porta. Eu sabia quem era antes mesmo de abrir.
«Prudence! O que diabos você fez com a minha casa?!» Emery gritou, com o rosto vermelho de raiva.
Cruzei os braços e me apoiei na moldura da porta, tentando manter a calma. «Não sei do que você está falando, Emery. Como eu teria entrado na sua casa? Nós nunca tivemos um acordo, lembra? Então, nunca tive as chaves da sua casa.»
Ela me olhou, sem palavras por um momento, antes do rosto dela se contorcer de raiva. «Você—você está mentindo! Vou chamar a polícia! Você vai pagar por isso!»
Eu dei de ombros, sem tirar os olhos dela. «Vai em frente e chame. Mas como vai explicar como eu entrei? Você não pode, porque, segundo você, nunca tive a chave.»
Emery abriu a boca para argumentar, mas nenhuma palavra saiu. Ela parecia prestes a explodir, mas tudo o que fez foi virar nos calcanhares e sair, murmurando algo entre dentes.
Eu a observei ir embora, meu coração ainda batendo forte, mas dessa vez não era só raiva. Era uma sensação de justiça, de equilíbrio restaurado.
Eu não sabia se ela chamaria a polícia, mas não estava preocupada. Emery aprendeu uma lição valiosa naquele dia: não mexa com Prudence.
Quando fechei a porta, soltei um longo suspiro, sentindo um peso sair dos meus ombros. Eu sabia que havia cruzado uma linha, mas naquele momento, parecia a única maneira de corrigir as coisas.
Às vezes, você precisa se defender, mesmo que isso signifique sujar as mãos. E quanto a Emery? Bem, eu tinha a sensação de que ela não pediria mais favores para mim tão cedo.