Por semanas, visitei o túmulo do meu pai, apenas para encontrar pequenas luvas de tricô deixadas para trás, cada uma aprofundando o mistério. Mas no dia em que vi um adolescente em pé lá, segurando outro par, soube que precisava descobrir a verdade.
Fiquei em frente ao túmulo do meu pai, com os braços cruzados ao redor de mim para lutar contra o frio. O vento de outono chicoteava pelo cemitério, mexendo nas folhas secas ao redor dos meus pés. Olhei para a lápide, meus olhos rastreando as letras familiares.
Um mês. Já fazia um mês desde que ele faleceu. Um mês de noites sem dormir, de olhar para o meu telefone, desejando poder ligar para ele—só para lembrar que eu nunca mais poderia.
“Sinto muito,” murmurei.
Minha voz parecia pequena, como a de uma criança.
Eu já tinha dito essas palavras uma dúzia de vezes antes, sempre que vinha aqui, mas nunca parecia ser o suficiente.
Três anos. Esse foi o tempo em que não falamos. Três anos de silêncio, de orgulho, de esperar que o outro tomasse a primeira atitude.
Abaixei-me, afastando as folhas caídas da base da pedra. Foi quando vi um par de luvas pequenas e vermelhas bem arrumadas no túmulo dele.
Franzi a testa.
Eram pequenas, como se fossem de uma criança. Peguei-as, virando-as nas mãos. A lã era macia, feita à mão.
Quem deixaria isso aqui?
Olhei ao redor, mas o cemitério estava vazio.
Talvez alguém as tivesse deixado por engano. Ou talvez elas pertenciam a alguém que estava visitando outro túmulo.
Sentei-me no chão úmido, cruzando as pernas.
“Ei, pai.” Minha voz quebrou, mas continuei. “Eu sei… eu sei que não terminamos as coisas bem.” Soltei uma respiração trêmula. “Mas espero que você soubesse que eu ainda te amava.”
Silêncio.
“Eu queria que pudéssemos ter conversado,” murmurei. “Eu queria ter pegado o telefone.”
Mas o tempo não volta.
E agora eu nunca mais ouviria sua voz.
Meu pai me criou sozinho. Eu nunca conheci minha mãe, ela morreu quando eu era um bebê.
Ele trabalhava duro, passando longos dias debaixo dos carros na oficina, graxa sob as unhas, suor na testa. Ele nunca reclamava ou deixava de pagar uma conta, e sempre se certificava de que eu tivesse o que precisava.
“Emily,” ele dizia, “você tem que ser forte. A vida não vai ser fácil para ninguém.”
E por muito tempo, eu achei que ele fosse o homem mais sábio do mundo.
Então eu conheci o Mark.
O Mark me fazia rir. Ele me fazia sentir segura. E ele me amava de uma maneira que me fazia ter certeza de que queria passar minha vida com ele.
Mas o pai não aprovava.
“Ele não tem um emprego de verdade,” ele disse, com os braços cruzados, enquanto estava na cozinha. “Como ele vai cuidar de você?”
“Eu não preciso que ele cuide de mim,” retruquei. “Eu posso cuidar de mim mesma.”
O pai suspirou, esfregando as têmporas. “Você tem vinte anos, Emily. Você não sabe o que está fazendo.”
“Eu sei!” Minha voz estava mais alta do que eu pretendia. “Eu o amo! E ele me ama!”
O rosto dele se endureceu. “Amor não paga as contas.”
Essa foi a primeira briga.
A segunda foi pior.
Eu havia conseguido meu primeiro emprego de enfermagem de verdade, em um asilo. Estava empolgada, orgulhosa. Mas quando contei ao pai, ele me olhou como se eu tivesse jogado meu futuro fora.
“Enfermeira? Em um asilo?” A voz dele estava afiada, desaprovadora.
“Sim, pai. Foi para isso que eu fui à escola.”
Ele balançou a cabeça, andando de um lado para o outro na cozinha. “Você vai passar os seus dias vendo as pessoas morrerem, Emily. Essa não é a vida que eu queria para você.”
Eu apertei os punhos. “É a vida que eu quero.”
“É um erro.”
“É o meu erro para cometer.”
A mandíbula dele se contraiu. “Você está jogando sua vida fora.”
Essa foi a noite em que fiz as malas e saí.
Eu pensei que ele ligaria. Achei que, depois de algumas semanas, talvez ele percebesse que estava errado. Que ele iria entrar em contato.
Mas ele nunca fez.
E eu também não.
E agora… era tarde demais.
Uma semana depois da minha primeira visita, voltei ao túmulo do meu pai. A culpa não tinha desaparecido, mas o peso dela parecia mais fácil de carregar quando eu me sentava ao lado dele, conversando como costumava fazer.
Eu me ajoelhei na frente da lápide, afastando algumas folhas caídas. Foi quando vi um par de luvas de tricô. Desta vez, eram azuis.
Peguei-as, virando-as nas mãos. Eram pequenas, assim como as vermelhas. Meu peito apertou.
“Pai,” murmurei, olhando para o túmulo. “Quem está deixando essas?”
Claro, não houve resposta.
Coloquei as luvas ao lado do par vermelho da última vez, descansando-as na grama. Talvez fosse um parente que eu não conhecia. Talvez fosse algum tipo de tradição da qual eu não sabia.
O pensamento me incomodava, mas eu deixei passar.
Eu vim aqui para falar com meu pai, então fiz isso.
Falei sobre meus dias de trabalho, sobre o Mark, sobre o quanto eu sentia falta dele. As palavras saíram de mim, como se dizê-las em voz alta pudesse desfazer os anos de silêncio.
Na semana seguinte, voltei e encontrei outro par de luvas. Agora, eram rosas. Na semana seguinte, havia um par verde. Depois, amarelo.
Cada vez, as luvas estavam arrumadas, como se alguém tivesse cuidadosamente colocado elas ali só para ele.
Isso se tornou uma obsessão. Na semana seguinte, cheguei mais cedo que o normal, muito antes do sol se esconder atrás das árvores.
Enquanto caminhava pelo cemitério, meu coração batia forte. Uma parte de mim se perguntava se encontraria outro par de luvas.
Mas, em vez disso, encontrei um garoto.
Ele parecia ter uns 13 anos, em pé na frente do túmulo do meu pai. Ele era magro, com roupas um pouco gastas, e nas mãos pequenas, ele segurava outro par de luvas.
Desta vez, eram roxas. Eu congelei.
Ele ainda não tinha me notado. Ele olhava para o túmulo, mudando de pé, seus dedos segurando as luvas como se elas significassem algo.
Eu dei um passo mais perto, com as botas fazendo barulho no cascalho. A cabeça dele se virou rapidamente. Seus olhos se arregalaram. Ele virou-se para sair.
“Ei, espera!” Eu chamei, acelerando o passo.
Ele hesitou, depois apertou as luvas com mais força. Eu podia ver a indecisão no rosto dele e suavizei minha voz. “Eu só quero conversar.”
O garoto ficou parado, olhando para mim com olhos cautelosos.
Eu parei a alguns metros de distância, para não assustá-lo.
“Você tem deixado as luvas, não tem? Qual é o seu nome?” Eu perguntei.
Os dedos dele se mexeram em volta da lã. Por um momento, ele não respondeu. Então, finalmente, com uma voz pequena e hesitante, ele disse, “Lucas.”
Eu respirei devagar, olhando para o par que ele segurava. Eles pareciam estranhamente familiares—o fio roxo, as pequenas costuras. Meu estômago apertou.
Eu estendi a mão para as luvas com as mãos trêmulas. No momento em que meus dedos tocaram o tecido macio, uma onda de memórias me invadiu. Eu as havia usado quando criança, anos atrás.
“Elas costumavam ser minhas,” murmurei.
“Sim,” ele disse. “Seu pai me deu elas há dois anos. Estava muito frio naquele inverno, e eu não tinha luvas. Minhas mãos estavam congelando.”
Eu engoli seco. Mesmo depois de tudo, mesmo depois de eu ter ido embora, o pai ainda estava cuidando dos outros.
Lucas continuou, sua voz suave. “Depois disso, ele começou a passar tempo comigo. Me ensinou a tricotar. Ele disse que era importante saber fazer as coisas com as mãos.”
Eu pisquei, tentando segurar as lágrimas. “Ele te ensinou?”
Lucas assentiu. “Sim. Comecei a fazer luvas, cachecóis, chapéus e outras coisinhas para vender para os vizinhos. Foi assim que ajudei minha família.” Ele olhou para baixo, depois voltou a me olhar. “Eu queria deixá-las aqui para ele. Achei… talvez isso o faria feliz.”
Lágrimas se formaram nos meus olhos.
Eu respirei profundamente, enxugando o rosto. “Lucas,” eu disse, “você me deixaria comprar essas de você?”
Ele franziu a testa. “Por quê?”
“Porque,” eu disse, com a voz embargada, “elas foram minhas um dia. E depois foram dele. Eu só… eu preciso delas de volta.”
Lucas sorriu um pouco, balançando a cabeça.
“Você não precisa comprar,” ele disse. “Elas são suas.” Ele pressionou as luvas em minhas mãos.
Eu as apertei contra o peito, lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas.
“Ele te amava,” Lucas disse suavemente. “Ele te perdoou há muito tempo. Ele só… ele esperava que você o tivesse perdoado também.”
Eu soltei um soluço.
“Ele falava de você o tempo todo,” Lucas acrescentou. “Ele se orgulhava de você.”
Minhas pernas ficaram fracas.
Eu me deixei cair no chão, segurando as luvas como se fossem o último pedaço do meu pai que eu ainda tinha. E, de certa forma, eram. Fiquei ao lado do túmulo do meu pai muito depois de Lucas ter ido embora.
O cemitério ficou mais silencioso à medida que o sol se punha, pintando tudo em tons de laranja e dourado.
Eu virei as luvas nas mãos, traçando as pequenas costuras. As costuras dele.
Todo esse tempo, eu pensei que as últimas palavras que trocamos eram palavras de raiva. Eu pensei que o silêncio entre nós fosse cheio de ressentimento.
Mas eu estava errada. O pai nunca parou de me amar.
E talvez… talvez ele sempre soubesse que eu nunca parei de amá-lo também.