Então, quando a mãe dele, Lucille, precisou de um lugar para ficar, eu não hesitei. Ela havia perdido seu apartamento e, embora não fosse exatamente fácil conviver com ela, não podia dizer não. Família é família, certo?
“Tem certeza?” Michael perguntou, com uma hesitação visível no rosto. “Ela pode ser… um pouco demais.”
“Tenho certeza,” respondi. “Mas ela precisa concordar em ser respeitosa, tá? Morar conosco não significa que ela pode fazer o que quiser em nossa casa, ou com nossas coisas.”
Meu marido assentiu. “Concordo. Vou falar com ela e garantir que ela entenda isso.”
No começo, estava tudo bem. Ela podia ser invasiva, claro, mas, na maior parte do tempo, ela estava apenas lá, ocupando espaço como uma sombra excessivamente perfumada. Eu atribuí seus comportamentos excêntricos ao período de adaptação.
Até o incidente com o colar.
Minha melhor amiga Tara e eu tínhamos planejado um brunch no café da Maple, um pequeno local com mesas pegajosas e os melhores lattes da cidade. Acabávamos de nos acomodar quando notei um grupo de mulheres de meia-idade rindo em uma mesa próxima.
Uma delas estava usando o colar da minha mãe.
Meu estômago afundou. Não havia como confundir o brilho familiar do ouro ou a filigrana intrincada no pingente que estava na minha família por gerações.
Aquele colar não era apenas uma peça valiosa de joalheria, era ela… minha mãe. A peça que ela usava em casamentos, formaturas e até nas tarefas cotidianas. A que ela me confiou antes de a doença levar ela embora.
“O que houve?” Tara perguntou, seguindo meu olhar.
“Aquela mulher está usando o colar da minha mãe! Como… Eu já volto,” disse, levantando-me com as pernas trêmulas.
Me aproximei da mulher, meu coração batendo forte.
“Com licença?” Minha voz falhou enquanto me aproximava da mesa dela.
Ela olhou para cima, surpresa, mas educada. “Sim?”
“Seu colar,” disse, apontando com o dedo trêmulo. “Onde você o conseguiu?”
“Oh, esse?” Ela tocou o pingente, franzindo a testa. “Minha amiga Lucille me emprestou. Disse que era só um pedaço de tralha da mãe falecida da nora dela. Ela insistiu para que eu pegasse.”
Lucille!
Meus ouvidos zumbiram. “Sério? Porque Lucille é minha sogra, e esse é o meu colar. É uma das minhas peças mais preciosas, não uma tralha, e eu nunca disse que ela poderia emprestá-lo a ninguém.”
O rosto da mulher se desfez enquanto ela pegava o fecho. “Me desculpe, eu não sabia. Ela fez parecer que… oh, Deus. Vou devolver.”
“E o resto,” acrescentei, varrendo o olhar pela mesa como uma acusadora dando o golpe final. O ar ao meu redor parecia engrossar à medida que eu reconhecia cada peça, uma nova onda de raiva surgindo a cada descoberta.
As mulheres trocaram olhares desconfortáveis. Uma a uma, começaram a mexer em suas joias. Karen, uma mulher usando um dos broches da minha mãe, me olhou com os olhos arregalados e cheios de culpa.
“Realmente não sabíamos,” ela gaguejou, seus dedos trêmulos enquanto desabotoava. “Lucille fez parecer que não era nada demais.”
“Ela mentiu,” respondi com frieza, estendendo a mão. “Por favor, apenas devolvam.”
Houve murmúrios de constrangimento e desculpas sussurradas enquanto as outras seguiam o exemplo de Karen.
Anéis deslizaram dos dedos, pulseiras foram retiradas dos pulsos e colares foram desfeitos com movimentos apressados. Quando a última peça foi entregue, meus bolsos estavam abarrotados de memórias roubadas. No entanto, em vez de alívio, senti apenas uma fúria crescente.
“Ela disse que estavam apenas guardados,” disse outra mulher hesitante, sua voz baixa. “Nós não sabíamos.”
Assenti com rigidez, embora meu coração doesse. Essas não eram apenas coisas. Eram fragmentos da vida da minha mãe que eu achava que havia protegido.
“Eu sei que não sabiam,” disse calmamente. “Não é culpa de vocês.”
Quando me virei para sair, forcei-me a andar calmamente, embora cada passo fosse um esforço para não desabar em lágrimas ou gritar para o ar livre. Do lado de fora, Tara me esperava ao lado do carro, com o rosto tenso de preocupação.
“Você conseguiu pegar tudo de volta?” ela perguntou quando entrei no banco do motorista.
“Sim. Mas isso ainda não acabou.”
O leve tilintar das relíquias em meu bolso foi o único som enquanto eu apertava o volante com força e olhava para a frente, engolindo minhas emoções.
Em casa, o cheiro de lavanda barata me atingiu no momento em que entrei no quarto de Lucille. Sua presença permanecia, sufocante como seu perfume. Ela estava em tudo: nas cortinas, na roupa de cama e até no maldito ar.
A caixa de joias dela estava aberta sobre a cômoda, seu conteúdo brilhando como uma provocação.
Aproximei-me, o chão rangendo sob os pés. Meu reflexo me encarava no espelho, com uma expressão dura e implacável. Isso não era eu; esse turbilhão de raiva e traição. Mas Lucille me empurrou longe demais.
Então a ideia surgiu.
Se Lucille queria brincar de biblioteca de empréstimos, tudo bem. Mas ela não iria usar o legado da minha família.
Peguei todas as peças de joias dela que encontrei — colares, pulseiras, tudo — e entrei em contato com suas amigas.
Karen, a líder do grupo do brunch, foi a primeira a responder.
“Acham que vocês e as outras poderiam me ajudar a dar uma lição nela?” perguntei.
Karen, querida, riu. “Oh, querida, estamos dentro.”
Alguns dias depois, Lucille convidou suas amigas para tomar chá, e eu coloquei meu plano em ação.
Observei das sombras do corredor enquanto as amigas dela chegavam, cada uma adornada com suas joias. O casaco de Karen exibia o famoso broche de strass de Lucille, refletindo a luz toda vez que ela se movia.
Outra mulher usava o colar de ouro grosso que Lucille sempre se vangloriava durante os jantares familiares, enquanto outra alguém girava os dedos, empilhados com os anéis de coquetel característicos de Lucille.
Lucille, sem perceber a princípio, servia chá e falava sobre nada, sua voz alta e irritante como sempre. Então ela congelou.
Seu olhar pousou no broche de Karen, e seu sorriso vacilou. Seus olhos se moviam de uma mulher para a outra, e a cada nova peça de joia que ela reconhecia, seu rosto ficava cada vez mais vermelho.
“O-que está acontecendo?” ela gaguejou, com o tom afiado de desconfiança.
Karen, bendita, manteve a calma. “O que há de errado, Lucille? Você está feliz em nos emprestar essas, não está?”
A xícara de chá de Lucille tremeu quando ela a colocou na mesa, sua mão trêmula.
“Essas são minhas joias! O que vocês estão fazendo usando elas?”
O grupo ficou em silêncio, se mexendo desconfortavelmente. Karen inclinou a cabeça, fingindo confusão. “Espera um minuto,” disse devagar. “Você estava bem em dar as relíquias da sua nora. Não é justo também?”
Os olhos de Lucille se arregalaram, seu peito subindo e descendo com indignação. “Isso é completamente diferente! Essas peças são minhas!” Sua voz quebrou, a ponta aguda traindo seu pânico.
Era minha deixa.
Entrei na sala, o peso da minha presença fazendo com que ela parasse no meio de sua ladainha.
“Ah, se acalma, Lucille,” disse, minha voz firme, mas com um toque de frieza. “Achei que seria justo retribuir o favor. Você sabe, já que decidiu que as relíquias da minha falecida mãe eram suas para emprestar.”
A cabeça dela se virou na minha direção, o rosto pálido e desesperado. “Eu não…”
“Nem tente,” interrompi.
“Você sabia exatamente o que estava fazendo. Você roubou de mim. Mentiu para suas amigas. E insultou a memória da minha mãe chamando o legado dela de ‘tralha antiga’.” O rosto dela ficou pálido, o orgulho se dissipando. “Eu não queria…”
“Não importa o que você quis dizer,” disse com firmeza. “Você ultrapassou um limite. Um enorme limite. E eu já cansei de deixar você me desrespeitar.”
A voz de Lucille caiu para um gemido. “Por favor, não chame a polícia.”
“Eu deveria,” disse. “Você não pode simplesmente roubar e mentir sem consequências.”
Naquela noite, Lucille fez as malas e foi embora. Michael a ajudou a carregar as malas até o carro, e seu silêncio dizia tudo. Isso não apagou a traição, mas ajudou.
As amigas de Lucille, furiosas por terem sido enganadas, cortaram relações com ela até que ela se desculpasse comigo e com elas. Mesmo assim, deixei claro: ela nunca mais ficaria sozinha em minha casa.
Naquela mesma noite, trancaram as joias da minha mãe em um cofre. Quando olhei para o colar, agora seguro em seu lugar, senti um alívio agridoce. Ele me lembrava do amor da minha mãe, da força dela. E da minha.
Porque, no final, Lucille pode ter tentado pegar uma parte do legado da minha mãe, mas não conseguiu tirar a lição que aprendi: às vezes, ser uma boa pessoa significa se impor.