Nunca imaginei ver meu professor do ensino médio anos depois, no meio de um mercado de agricultores lotado. Mas lá estava ele, chamando meu nome como se o tempo não tivesse passado. O que começou como uma conversa educada rapidamente se transformou em algo que eu nunca poderia imaginar.
Quando eu estava no ensino médio, o Sr. Harper era o professor que todos adoravam. Recém-saído da universidade, ele tinha o dom de fazer a história antiga parecer uma série da Netflix. Ele era energético, engraçado e talvez um pouco bonito demais para um professor. Para a maioria de nós, ele era o “professor legal”, aquele que fazia você sentir que aprender era menos um fardo. Para mim, ele era apenas o Sr. Harper—um adulto gentil e engraçado que sempre tinha tempo para seus alunos. “Claire, ótima análise sobre o ensaio da Declaração de Independência,” ele me disse uma vez após a aula. “Você tem uma mente afiada. Já pensou em fazer faculdade de Direito?”
Lembro-me de dar de ombros timidamente, apertando meu caderno contra o peito. “Não sei… Talvez? História é só… mais fácil do que matemática.” Ele deu uma risada. “Confie em mim, matemática é mais fácil quando você não pensa demais. História, porém? É lá que estão as histórias. Você é boa em encontrar as histórias.” Com 16 anos, isso não significava muito para mim. Ele era só um professor fazendo seu trabalho. Mas seria mentira se eu dissesse que suas palavras não ficaram na minha cabeça. A vida aconteceu depois disso. Me formei, me mudei para a cidade e deixei aquelas memórias do ensino médio para trás. Ou assim pensei.
Avançando oito anos. Eu tinha 24 anos e estava de volta à minha cidade natal, passeando pelo mercado de agricultores quando uma voz familiar me parou em seco. Me virei, e lá estava ele. Mas agora, ele não era mais o “Sr. Harper.” Ele era só Leo. “Sr. Har—quer dizer, Leo?” Eu tropecei nas palavras, sentindo as bochechas esquentarem.
O sorriso dele se alargou, o mesmo de sempre, mas com um pouco mais de facilidade, um pouco mais de charme. “Você não precisa mais me chamar de ‘Sr.’” Era surreal—estar ali com o homem que costumava corrigir minhas redações, agora rindo comigo como um velho amigo. Se ao menos eu soubesse o quanto aquele momento mudaria minha vida. “Você ainda está dando aulas?” perguntei, equilibrando uma cesta de vegetais frescos no quadril. “Sim,” Leo disse, com as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta. “Agora em uma escola diferente. Ensino inglês no ensino médio hoje em dia.” “Inglês?” zoei. “O que aconteceu com história?”
Ele riu, um som profundo e fácil. “Bem, aconteceu que eu sou melhor discutindo literatura.” O que me impressionou não foi só o quanto ele parecia mais velho—foi o quanto ele parecia mais leve. Menos o professor iniciante energético, mais o homem confiante que encontrou seu ritmo.
Enquanto conversávamos, a conversa não apenas fluía—ela dançava. Ele me contou sobre os anos ensinando os alunos que o deixavam louco, mas que também o faziam se orgulhar, e as histórias que ficaram com ele. Eu compartilhei meu tempo na cidade: os empregos caóticos, os relacionamentos fracassados e o sonho de abrir um pequeno negócio algum dia. “Você seria incrível nisso,” ele disse sobre um café duas semanas depois. “A maneira como você descreveu a ideia? Eu praticamente consegui visualizar.”
“Você está dizendo isso só para me agradar,” eu ri, mas o olhar firme dele me fez parar.
“Não, eu estou falando sério,” ele disse, com a voz suave, mas insistente. “Você tem a determinação, Claire. Só precisa da oportunidade.”
Quando chegamos ao nosso terceiro jantar—desta vez em um bistrô acolhedor iluminado por luz de velas—percebi algo. A diferença de idade? Sete anos. A conexão? Instantânea. O sentimento? Inesperado. “Estou começando a achar que você está só me usando para suas curiosidades históricas,” brinquei enquanto ele pagava a conta.
“Pegou,” ele disse com um sorriso, aproximando-se um pouco mais. “Embora eu possa ter motivos ocultos.” O ar mudou, uma corrente de algo não dito, mas inegável, passando entre nós. Meu coração acelerou, e eu quebrei o silêncio com um sussurro. “Acho que você vai ter que ficar por perto e descobrir.”
Um ano depois, estávamos debaixo do carvalho gigante no quintal dos meus pais, cercados por luzes de fada, o riso dos amigos e o suave farfalhar das folhas. Foi um casamento simples e pequeno, do jeito que queríamos.
Enquanto eu colocava a aliança de ouro no dedo de Leo, não pude deixar de sorrir. Esta não era o tipo de história de amor que eu havia imaginado para mim, mas parecia certa de todas as maneiras.
Naquela noite, depois que o último convidado saiu e a casa caiu em um silêncio pacífico, Leo e eu finalmente tivemos um momento para nós. Sentados na luz suave da sala de estar, ainda vestidos com nossas roupas de casamento, os sapatos de lado, copos de champanhe nas mãos.
“Eu tenho algo para você,” ele disse, quebrando o silêncio confortável.
Levantei uma sobrancelha, intrigada. “Um presente? Além de casar comigo? Movida ousada.”
Ele riu suavemente e puxou um pequeno caderno de couro surrado de trás das costas. “Achei que você iria gostar disso.”
Peguei-o, passando os dedos pela capa rachada. “O que é isso?”
“Abra,” ele pediu, com a voz tingida de algo que eu não conseguia identificar—nervosismo? Excitação?
Ao abrir a capa, imediatamente reconheci a caligrafia bagunçada na primeira página. Minha caligrafia. Meu coração deu um salto. “Espera… isso é o meu velho diário de sonhos?”
Ele assentiu, sorrindo como uma criança confessando um segredo bem guardado. “Você escreveu isso na minha aula de história. Lembra? Aquela tarefa onde você tinha que imaginar seu futuro?”
“Eu havia completamente esquecido disso!” Ri, embora minhas bochechas estivessem coradas de vergonha. “Você guardou?”
“Não de propósito,” ele admitiu, esfregando a nuca. “Quando mudei de escola, encontrei isso em uma caixa de papéis antigos. Quase joguei fora, mas… não consegui. Era bom demais.”
“Bom?” Fui folheando as páginas, lendo fragmentos dos sonhos de adolescente. Abrir um negócio. Viajar para Paris. Fazer a diferença. “Isso é só o devaneio de uma adolescente.”
“Não,” Leo disse, com a voz firme, mas suave. “É o mapa da vida que você vai ter. Eu guardei porque me lembrava de quanto potencial você tinha. E eu queria ver isso se tornar realidade.”
Fiquei olhando para ele, a garganta apertando. “Você realmente acha que eu posso fazer tudo isso?”
A mão dele cobriu a minha. “Eu não acho. Eu sei. E estarei aqui, em cada passo do caminho.”
Lágrimas surgiram nos meus olhos enquanto eu apertava o caderno contra o peito. “Leo… você está me arruinando agora.”
Ele sorriu. “Bom. Esse é meu trabalho.”
Naquela noite, enquanto eu estava na cama, o caderno de couro surrado descansando sobre meu colo, não consegui afastar a sensação de que minha vida estava prestes a mudar de maneiras que eu ainda não conseguia compreender. O braço de Leo estava sobre mim, a respiração constante e quente contra meu ombro.
Fiquei olhando para o caderno, suas páginas repletas de sonhos que eu havia esquecido, e senti algo se mexer lá dentro.
“Por que você não me disse que tinha isso antes?” sussurrei, quebrando o silêncio.
Ele se mexeu ligeiramente, mas não levantou a cabeça. “Porque eu não queria te pressionar,” murmurou sonolento. “Você tinha que voltar a esses sonhos sozinha.”
Passei os dedos pelas páginas, minha caligrafia de adolescente quase estrangeira para mim. “Mas… e se eu falhar?”
Leo se levantou um pouco, os olhos encontrando os meus na luz suave. “Claire, falhar não é a pior coisa. Nunca tentar? Isso sim é pior.”
Suas palavras ficaram comigo muito depois de ele ter adormecido. Pela manhã, eu já havia tomado minha decisão.
Nas semanas seguintes, comecei a derrubar as barreiras que havia construído ao meu redor. Pedi demissão do trabalho de escritório que nunca gostei e me entreguei à ideia que morava na minha cabeça há anos: um café-livraria. Leo se tornou minha base, estando ao meu lado nas noites longas, nos contratempos financeiros e nas minhas incertezas.
“Você acha que as pessoas realmente vão vir aqui?” Perguntei a ele uma noite enquanto pintávamos as paredes da loja.
Ele se apoiou na escada, sorrindo. “Você está brincando, né? Uma livraria com café? Você vai ter gente fazendo fila só para sentir o cheiro do lugar.”
Ele não estava errado. Quando abrimos, não era apenas um negócio—era parte da comunidade. E era nosso.
Agora, enquanto me sento atrás do balcão da nossa próspera café-livraria, assistindo Leo ajudar nosso filho a pegar os giz de cera do chão, penso naquele caderno—o estopim que reacendeu uma chama em mim que eu nem sabia que tinha se apagado.
Leo olhou para cima, pegando meu olhar. “Que cara é essa?” Ele perguntou, sorrindo.
“Nada,” eu disse, com o coração cheio. “Só pensando… eu realmente casei com o professor certo.”
“Claro que sim,” ele disse, piscando.